A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA

Guerreiro do Clã dos Filhos do Sol

 
 Cunhã do Clã das Filhas da Lua

O "TUYABAÉ-CUAÁ E A SANTIDADE"


      A Sabedoria dos Pajés Ancestrais de Pindorama - o Tuyabaé-Cuaá - estudada por De Bry, Hans Staden e Padre Simão de Vasconcellos exprimia-se numa linguagem sagrada - o Nheengatu -, a "Língua Boa". Entretanto, esta mesma Sabedoria reconhecia que existira uma língua matriz muito mais antiga - a Abanheengá - tão antiga, diziam ainda os Pajés, que "somente Tupã, o Deus Supremo, poderia tê-la ensinado à raça mais antiga de toda a Terra", ou seja, aos seus antepassados".
      Os Tupis-Guarani adoravam, pois, a um Deus Único Supremo - Tupã - mas reconheciam a existência de uma Trindade Manifestadora do Poder Divino - Guaracy, Yacy e Rudá -, simbolizando o Poder Gerante, o Poder Gestante e o Poder Gerado, admitindo ainda a existência de um Messias Civilizador - Yurupari - gerado pela Virgem Mãe Chiucy.


( Vou ler depois )

      Desta forma, tinham uma divisão entre os ritos dos clãs masculinos [Tembetá], dos clãs femininos [Muyraquitan] e dos ritos para os seus antepassados, entre eles o do Guayú [evocação dos espíritos ancestrais], quando os seus Xamãs - os Payés - entoavam um canto lento, ritmado, repetitivo e de efeito hipnótico ao som de seus Mbaracás [chocalhos], aplicando-os depois à testa das Cunhãs [mulheres profetizas], que então entravam em transe mediúnico e passavam a comunicar as mensagens dos Ra-Angás [Espíritos de seus Antepassados].
      Este antiquíssimo conjunto de crenças Tupi-Guarani foi detectado e conhecido pela Ordem Católica dos Jesuítas que, sobre ele, pode estabelecer um programa de evangelização dos indígenas nos primórdios da colonização do Brasil, baseado em três pontos principais :
1 - a aceitação destes valores espirituais ancestrais nativos "Tupã", "Guaracy", "Yacy", "Rudá" e "Chiucy", mas trocando-lhes os nomes para "Deus Pai", "Santíssima Trindade" e "Virgem Maria";
2 - o combate sem tréguas contra aos valores mais radicalmente opostos aos dos ocidentais, tais como a autoridade dos Payés, o rito espirítico do Guayú, com seus Mbaracás mediunizantes e suas Cunhãs profetisas;
3 - transformar o Messias Civilizador Yurupari numa contrafacção do "Diabo".
      Um dos resultados paralelos dessa catequese cristã foi o aparecimento do primeiro sincretismo religioso brasileiro - o Indígena-Cristão -, o qual desenvolveu-se dentre os descendentes dos indígenas espoliados na medida que viam naufragar a cultura de seus ancestrais e que muito pouco lhes era dado em troca para substituí-la : a "Santidade".
      A Santidade foi um movimento messiânico de caráter nitidamente indígena, baseado no ressentimento contra os brancos invasores, fazendo uso de um Cristianismo mal digerido do qual adotaram a construção de "Igrejas'; um simulacro de "Batismo"; chefes masculinos e femininos denominando-se por "Pai de Deus" e "Mãe de Deus"; uso de procissões, rosários e cruzes.
      Isto tudo de mistura com valores da cultura indígena, como a poligamia, cantos e danças indígenas, mas cujo ponto principal ainda era o uso do Petun [Tabaco] como "erva sagrada", tradicionalmente insuflado nas narinas do oficiante, na forma de "rapé" [pó torrado das folhas secas de tabaco) até que ocorresse o transe místico, o qual era chamado, precisamente, de "Espírito de Santidade".
      Combatido pela Inquisição Católica já à partir de 1534, o sincretismo indígena-cristão da "Santidade" originou um novo culto - a "Pajelança" -, o qual revivia sobretudo os antigos rituais indígenas de cura, o dos seus Ra-Angás [Antepassados] e, agora, um outro dedicado aos "Espíritos da Santidade". Esta mixagem de conceitos religiosos indígena e cristão - o Tuyabaé-Cuaá, a Santidade, a Pagelança - passa a ser considerada o primeiro Sincretismo Religioso ocorrido nas Américas.

Mana, Benção, Mandinga e Axé
Mestre Piron

 

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