Orisa Osalufan com seu cajado sagrado
AWON ORISA

AWON ORISA - OS MUITOS ORIXÁS

Origens do Conceito dos Orixás

As origens do conceito dos Seres Sobrenaturais de Categoria Divina dos povos Sudaneses é tão antiga que perde-se na Noite dos Tempos Passados. Mas, a estratificação de seus graus hierárquicos já é identificável a partir do III século D.C. e é extremamente complexa por refletir também o início da organização social e política daqueles povos.
        Léo Frobenius (1913), erudito pesquisador e etnógrafo ocidental, estudando a religião dos Ioruba, principalmente à época em que a mesma ainda não havia assimilado conceitos religiosos alienígenas de origens islâmica e cristã, disse com propriedade:
"A religião dos Iorubás encontrava-se num estágio requintado de evolução, podendo medir-se pela religião grega, quer pelo número de episódios, quer pela riqueza de personagens, quer pela profundidade das instituições."
        E os episódios, os personagens e a profundidade das instituições encontram-se nos milenares Ese Itan Ifa ["Versos dos Contos de Ifá"] dos Itan Atowodowo ["Contos dos Tempos Imemoriais"] preservados pela Tradição Oral dos Ioruba por mais de dois mil anos.
        E dado que indubitavelmente foi a Tradição dos Sudaneses que legou à Umbanda o Conceito dos Orixás, vamos aqui discorrer sobre eles de acordo com o Mito da Criação Universal, segundo os próprios Ioruba.


( Vou ler depois )

Do Mito da Criação Universal, segundo os Ioruba.

Os milenares Ese Itan Ifa ["Versos dos Contos de Ifá"] em seus Awon Odu ["Fundamentos de Tradição Oral"], falam com freqüência nos Awon Imole ["Os Seres Sobrenaturais de Categoria Divina"]:
    " -Awon Irinwo Irunmole oju kotun, ati awon Igbamole oju kosi -."
     -"Os Irinwo Irunmole do Lado Direito e muitas Igbamole do Lado Esquerdo"-."
        Outras vezes, falam em 600 (seiscentos) Imole, classificando-os em 400 (quatrocentos) Irunmole ["Divindades Masculinas"] e em 200 (duzentas) Igbamole ["Divindades Femininas"].
        Mas, isto significa muito mais que os Imole eram e são considerados como divididos em Irumole Irinwo Imole ["Divindades Geradores"] e Igba Imole ["Divindades Gestantes"] e todos os pesquisadores eruditos e os religiosos africanos também estão de acordo em considerar lógica a tradição de que estes 600 Imole são um número místico com a função de emprestar grandeza ao conceito de Divindade, o que importa em dizer-se que eles, os Imole, já eram e ainda são uma grande quantidade desconhecida.
        Assim sendo, na Teogonia Ioruba, no mais alto dos Meesan Orun ["Nove Além"] ou "Planos da Existência", denominado Ajal'orun ["Teto do Além"], portanto, no ápice do poder espiritual, está OLORUN ["DEUS"], justamente O ("Aquele") + LI ("tem") + ORUN ("o Além").
        Ele é o Ala Iwa Aba L'Ase ["Supremo Criador dos Princípios e Poderes que tornam possíveis e regulam toda a Existência"] em todos os seus Nove Planos:
- o Iwa ["Poder da Existência"] da "Qualidade do Branco";
- o Ase ["Poder da Realização"] da "Qualidade do Vermelho" que dinamiza a Existência;
- o Aba ["Poder da Essência"] da "Qualidade do Preto" que dá propósito à Realização.
        Ele não era considerado, pois, um Imole: para o Povo Ioruba OLORUN é a denominação para o Conceito de Deus Uno, Todo Poderoso, Infinito e Eterno!
        Daí o distanciamento que todos os outros Seres Espirituais têm que Dele manter, pois nada na Criação é capaz de suportar-Lhe o magnífico esplendor, sem a sua expressa permissão!
        Consoante este conceito universal de Deus, Incriado e Criador, Único e Todo-Poderoso, OLORUN não tem culto específico e nem sacerdócio particularizado. Mas, apesar disso, Ele não é tão remoto ou indiferente aos assuntos humanos. Pelo contrário, Ele está sempre muito próximo aos Seres de sua Criação: as preces e os apelos sinceros do coração humano O alcançam.

Então, consoante o Mito da Criação da Tradição Ioruba:

"OLORUN, com seu próprio Hálito Divino, criou o Irunmole Orisa Orisanla, de Orisa ["Ôrixá"] + Nla ["Grande"], a "Grande Divindade Masculina da Qualidade do Branco".
        Em seguida, OLORUN criou a Igbamole Oduduwa, a Iyangba, de Iya ["Mãe"] + Ni Gba ["que recebe"], a "Grande Divindade Mãe da Qualidade do Preto".
        Ao Irunmole Orisa Orisanla e à Igbamole Oduduwa, OLORUN delegou os poderes para a geração e gestação de todas as condições para que os Seres existissem no Além e no Universo.
         Em terceiro lugar, com a Eerupe ["Lama"], mistura de Água e Terra, mas também vivificada por Seu Hálito (Ar) e Centelha Divina (Fogo), OLORUN criou o Imole Esu Agba ["Esu Ancestral"], o "Terceira Cabaça", ou "Terceiro Ser Criado", o Imole da Dinamização, da Transformação e da Restituição, quer no Além ou quer na Terra-da-Vida e, portanto, portador de todas as Qualidades do Vermelho, do Preto e do Branco.
         O Imole Esu Agba é, portanto, o primeiro Ara Orun ["Corpo do Além"], ou seja, a "Primeira Individualidade Espiritual" a ser criada com o concurso da Matéria combinada: Fogo (Centelha Divina), Ar (Hálito Divino), Água e Terra (Eerupe, a (Lama).
        Sua qualidade de "Terceiro Ser Criado" o constituiu em Osije ["Mensageiro Divino"] com permissão expressa de se apresentar perante OLORUN que somente receberá Oferendas se elas forem conduzidas por Imole Esu Osije.
        Em seguida, houve a Criação de todos os Awon Imole, os muitos "Seres Sobrenaturais de Categoria Divina", ainda criados diretamente por OLORUN, ou seja:
        Num primeiro momento da Criação, OLORUN criou os Awon Irunmole Orisa Funfun ("Seres Sobrenaturais Masculinos da Qualidade do Branco"). Conheceram-se 50 (cinqüenta) deles que realmente portam o nominativo Òrìsà, de Ori ("Cabeça") + Osa ("Divindade") e que são considerados "Não Gerados" mas "Geradores"; pertencem ao Oju Kotun ["Lado Direito"]; ao Irinwo ["Poder Gerador Masculino"]; à Iwa ["Classe de Poder da Existência"], expressado materialmente pela cor Funfun ["Branca"].
        O principal Irunmole Orisa Funfun é, como já vimos, Orisanla ["Oxalá"]. Daí decorre seu maior título Obatala - de Oba ["Senhor"] + Ni ["tem"] + Ala ["Veste Branca"], ou seja, o "Senhor que tem a Veste Branca".
        Em seguida, vem o Orisa Funfun cujo título é Orunmila, porque diziam os Awon Babal'awo Ancestrais de Ile Ife, a Cidade Santa dos Iorubás, que este nominativo significa "Aquele que pode abrir o Além", provindo de : Orun {"Além"] + Emi ["Eu"] + Ela ["Abrir"]. E é realmente Orunmila, o Orisa que responde à preces dos Humanos, através do A Da Ifa Fun {"Criar Ifá para alguém"] de sua Adivinhação Sagrada pelo Opon Ifa ("Tabuleiro de Ifá") e o Opele Ifa ("Corrente de Ifá").
        Desta forma, Orunmila-Ifa é o Arauto dos Desígnios de Deus para os Destinos Humanos e que, para isso, pode apresentar-se frente a OLORUN e suportar-lhe o magnífico esplendor.
        Num segundo momento da Criação, OLORUN criou as Awon Igbamole Iyangba Dudu ("Seres Sobrenaturais Femininos Grandes Mães da Qualidade do Preto"), dentre elas a Iyangba Nanan Buruku, a Grande Mãe Ancestral da Qualidade do Preto (dudu), ainda que por vezes fossem chamadas pelo termo Iya Mi ["Senhora Minha"].
        Elas pertencem ao Oju Kosi ["Lado Esquerdo"], à Igba ["Poder Gestante Feminino"], à Aba ["Classe de Poder da Essência"], expressado materialmente pela cor Dudu ["Preta"]. Conheceram-se muitas delas que são consideradas as "Não geradas" mas "Gestantes". Entre elas podemos citar : Yemideregbe ["Aquela que vem da Laguna"] que, no Brasil, é conhecida como Iemanjá ["Mãe dos Filhos-peixes"].
        Do relacionamento mitológico dos Irunmole Irinwo Funfun com as Igbamole Iyangba Dudu, surgiriam outras duas classes de Seres Sobrenaturais considerados como "Descendentes Masculinos" e "Descendentes Femininos" desses relacionamentos:
        Os Omode Okunrin ["Descendentes Masculinos"] pertencem ao Ase ["Classe de Poder da Realização"], expressado materialmente pela cor Pupo ["Vermelha"], ou então, por múltiplas combinações das três cores-símbolos: Branco, Preto e Vermelho. Classificam-se junto ao Ojun Kotun ["Lado Direito da Criação"] e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Funfun ["Qualidade da Brancura"], são também denominados por Orisa Omode Okunrin ["Orixá Descendente Masculino"].
        As Omode Obirin ["Descendentes Femininos"] também pertencem ao Ase ["Classe de Poder da Realização"], expressado materialmente pela cor Pupo ["Vermelha"], ou então, por múltiplas combinações das três cores-símbolos: Branco, Preto e Vermelho. Classificam-se junto ao Oju Kosi ["Lado Esquerdo da Criação"], e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Dudu ["Preto"], são também tratadas por Ebora Iyami, porque este termo também pode traduzir-se por "Senhora" (Iya) "Minha" (mi), o que gerou muitas confusões posteriores entre os conceitos das "Entidades Grandes Mães Gestantes (Iyangba Iyami" ["Minha Grande Mãe Ancestral"] e o das "Entidades Filhas Geradas (Ebora Iyami" ["Entidade Feminina Senhora Minha"], quando da transposição, durante o cativeiro no Brasil, da Teologia em língua Iorubá para as Lendas contadas em língua portuguesa estropiada.
        Vê-se, assim, que a classificação de Imole ["Seres Sobrenaturais de Categoria Divina"] abrange a todos os Ara Orun ["Seres do Além"] que não sejam os Onile ["Senhores da Terra ou Ancestrais"]. Ela é uma classificação superior comum a todos os Seres Sobrenaturais de Categoria Divina.
        Assim, ao se dizer que tal ou qual Entidade Espiritual é, ou não, um Orisa ou uma Iyami ou uma Ebora, não se está de maneira alguma rebaixando o seu "Status Espiritual" e sim melhor qualificando-o quanto a sua função/atuação na Hierarquia Divina.
        Desta forma, quanto à sua atuação mais ancestral, aceita e ensinada pelos Babal'awo, o Imole Esu não é um Orisa porque não pertence ao Funfun ["Brancura"]. Ele pertence à uma categoria única, exclusiva e importantíssima na Classe dos Imole: a posição de "Terceiro Criado" diretamente por OLORUN.
        Imole Esu, não tendo sido "Gerado", também não é "Gerador"; pertence igualmente ao Oju Kotun ["Lado Direito"] e ao Oju Kosi ["Lado Esquerdo"], pois como Osije ["Mensageiro Divino"] anda por todos os Meesan Orun ["Nove Além"]. Por ser o Grande Dispensador do Poder do Iwa, Aba e Ase carrega em seu Ado Iran ["Cabaça Mágica"] as múltiplas combinações das três cores-símbolos Funfun, Dudu e Pupo. Também, por delegação unânime de todos os Orisa, das Iyami, dos Orisa Omode Okunrin e as Ebora Omode Obirin, ele é o Enugbarijo ["Boca Coletiva"], capaz de falar por todos nós a OLORUN no momento que em que for cumprir sua missão de Mensageiro Divino.
        Assim sendo, toda essa classificação dos Seres Sobrenaturais de Categoria Divina, hoje conhecida como parte da "Djina dos Ôrixás", é muito importante quando dos rituais de "feitura" dos fiéis e/ou do "Assentamento" de uma Entidade Espiritual num lugar devocional mas, no Brasil, após a perda de valores iniciatórios causada pela escravidão e a catequese católica forçada, mais a conseqüente reunião de todos os Seres Sobrenaturais em um só espaço físico - inicialmente o do Candomblé de Nação - o apelativo de "Ôrixá" firmou-se para designar a todos os Seres Sobrenaturais de Categoria Divina indiscriminadamente, quer fossem da Direita ou da Esquerda, ou, quer fossem "Pais", "Mães" ou "Filhos", quer, ainda, fossem da qualidade do Preto ou do Vermelho. Alguns, até chamam Esu por "Ôrixá" porque pressentem sua importância, mas desconhecem sua verdadeira essência !!!
        O próprio Orisanla, no Brasil, ficou mais conhecido pela contração do termo Orisa Nla em Orinxanalá, depois em Oxanlá e posteriormente criando-se a nova fonética "Oxalá", sob a qual é passou a ser muitas vezes confundido com OLORUN e, outras vezes, sincretizado com as características católicas e esotéricas do Senhor Jesus, o Cristo.
        A principal Igbamole Ebora Dudu é a grande Divindade do Preto, a Igbamole Iyangba Oduduwa que é a Parceira Gestante do Casal Divino, mas que está praticamente esquecida no Brasil.   Como esquecidas estão as Entidades Espirituais de Origem Divina Oranfe, Agbona, Erikiran, Erinle, Oluwa, Oke, Agbala, Ikire, Hoho, Ija, Olufon, Eteko, Oluorogbo, Oluwonfin, Oxaogiyan, etc...
        Desta forma, assim, mais tardiamente, a própria a Umbanda Esotérica fixou seus parâmetros sobre as características esotéricas de apenas um Orisa Funfun, cinco Irunmole e uma Iyami, mas também chamando a todos por "Ôrixá": Oxalá, Ogum, Oxosse, Xangô, Yemanjá, Yori (Ibeje), Yorimá (Obaluaiye).
        Mas, ainda no Brasil, o maior dos esquecidos foi o Ara Orun Imole Irunmole Orisa Funfun Oju Kotum Orunmila Ifa, o Senhor dos Destinos Humanos e, talvez, por isso, este país não encontre o rumo da felicidade e da justiça social que espero em OLORUN que ele mereça e, um dia, alcance.
        Assim sendo, esta Home Page existe para redimir tal esquecimento !!!

Mana, Benção, Mandinga e Axé
Baba Oberefun Si Okojumide

 

Retornar